Poesia negra em luto: Élio Ferreira morre aos 68 anos em Teresina

Professor, poeta, ensaísta e figura ímpar na cultura negra piauiense e brasileira nos deixou
Renato Rodrigues Renato Rodrigues
  • Professor Élio Ferreira estava em estado final de um câncer
  • Ele faleceu ao cair da tarde dessa quinta-feira (11), no Hospital São Marcos
  • Agora, sua memória viverá sempre em suas letras

A poesia ficou um pouco mais triste no Piauí. No cair da tarde dessa quinta-feira (11), o professor, poeta, ensaísta, capoeirista Elio Ferreira de Souza faleceu, aos 68 anos, na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital São Marcos.


Élio foi um dos responsáveis pela criação do mestrado em Literatura Afrodescendente da Universidade Estadual do Piauí, Campus Poeta Torquato Neto, bem como a lei de cotas para o local em que era professor decano.

Nascido em 14 de maio de 1955, em Floriano, professor Élio era filho de um ferreiro, profissão que foi seu ofício até os 20 anos. Foi de ferro de Ogum, registrado em seus vários livros de poesia publicados, que ele retirava forças para mostrar que a poesia negra piauiense era transformadora.

Elio também foi o responsável pela criação, organização e propagação do principal encontro de Literatura Negra e Africana do Brasil, através do Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro – Nepa, organizou o Encontro Internacional de Literaturas, Histórias e Culturas Afro-Brasileiras e Africanas.

Da poesia negra de Solano Trindade a Langston Hughes, Élio Ferreira agora descansa em poder ao lado daqueles e daquelas que sempre admirou. O velório aconteceu na funerária Lótus, localizada na Avenida Miguel Rosa, ao lado do batalhão do Corpo de Bombeiros.  

“[Escrever] é uma maneira de falar para o mundo, contar a história dos meus antepassados negros e a minha própria história, influindo e participando na transformação da sociedade através da denúncia contra as violências racial e social” , Élio Ferreira em entrevista à revista Quilombhoje.

O Ferreiro e o Martelo
Ao meu pai Aluízio Ferreira, in memoriam

O meu pai é ferreiro,
Ele acorda de manhã,
Bem cedinho,
Na hora dos passarinhos,
O martelo TEM TEM TEM…

O meu pai é ferreiro,
Ele acorda a casa,
Acorda a vizinhança,
Acorda a minha rua,
Acorda o bairro inteiro,
O martelo TEM TEM TEM…

O meu pai é ferreiro,
Um menino puxa o fole:
A oficina, a forja, o fogo,
O ferro em brasa, a bigorna,
A tenaz e a geometria do ferro,
O martelo TEM TEM TEM…

O meu pai faz enxada, foice e machado.
O meu pai faz chocalho, espora, brida e cabeçote.
O meu pai faz faca, facão, rifle e espingarda.
O meu pai faz marca de ferrar e ferradura.
O meu pai faz porca, parafuso, portas e portões.
O meu pai faz o diabo-a-4 de ferro.
O martelo TEM TEM TEM…

O meu pai é ferreiro,
Ele conta histórias bonitas para mim,
Ele acorda de manhã
Bem cedinho,
Na hora dos passarinhos.
O martelo TEM TEM TEM.

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