O ator, diretor e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, mais conhecido como Zé Celso, faleceu nesta quinta-feira (06) na cidade de São Paulo. Aos 86 anos, o artista havia sido internado na terça-feira (04) após sofrer queimaduras em mais da metade de seu corpo durante um incêndio em sua própria casa. Apesar dos esforços médicos, Zé Celso não resistiu aos ferimentos e veio a óbito na manhã de hoje.
No dia do ocorrido, por volta das 7h30 da manhã, as chamas começaram a se propagar rapidamente pelo apartamento do sexto e último andar de um prédio localizado na região do Paraíso, Zona Sul de São Paulo. Segundo relatos de vizinhos, a suspeita é que o incêndio tenha sido causado por um curto-circuito no aquecedor. As chamas logo se espalharam, atingindo móveis e as roupas que Zé Celso vestia no momento.
A sobrinha do diretor teatral, Beatriz Correa, havia informado à imprensa na terça-feira que o estado de saúde do tio era grave. Ele precisou ser intubado e, apesar do quadro delicado, encontrava-se estável na ocasião. No entanto, a médica Luciana Domschke, que acompanhava o artista há anos, revelou na última quarta-feira que houve um agravamento significativo em seu estado de saúde.
Ao chegar ao Hospital das Clínicas, Zé Celso foi sedado e teve curativos realizados em uma área relativamente extensa de queimaduras pelo corpo. No final da tarde do mesmo dia, ele foi transferido para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da instituição. A médica Luciana Domschke destacou que “aconteceu uma fatalidade e ele está queimado. Paciente queimado é sempre grave. Ele venceu a primeira etapa, que foi sair do apartamento com vida, foi atendido pelo Samu e entubado por protocolo”.
Infelizmente, Zé Celso teve aproximadamente 53% de seu corpo queimado, com queimaduras de segundo grau no rosto, braços, mãos e pernas. No momento do incêndio, outros membros do Teatro Oficina, Marcelo Drummond, Victor Rosa e Ricardo Bittencourt, também estavam presentes no apartamento. Eles foram afetados pela inalação de fumaça, mas se encontram estáveis e sob observação médica.
A Polícia Civil, por meio da 36ª Delegacia de Polícia (Vila Mariana), está investigando as causas do incêndio.
Zé Celso figura icônica do teatro
José Celso Martinez Corrêa foi uma figura icônica do teatro brasileiro. Zé Celso era reconhecido por sua maneira excêntrica e ousada de montar peças teatrais, interagindo com a plateia e explorando diferentes manifestações artísticas.
Em junho deste ano, o artista se casou com Marcelo Drummond, após quase 40 anos de relacionamento. Zé Celso iniciou sua carreira na década de 1950, destacando-se por suas peças “Vento Forte para Papagaio Subir” e “A Incubadeira”. Sua influência ultrapassou os palcos, aparecendo também no cinema, em obras como “O rei da vela” e “25”.
Além de sua contribuição artística, Zé Celso estudou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde fundou o Grupo de Teatro Amador Oficina. O grupo evoluiu e se tornou o renomado Teatro Oficina, sediado na região central de São Paulo, com o prédio projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi.
Zé Celso era conhecido por suas criações coletivas e seu teatro mais sensorial, sempre guiado pela realidade política e cultural do Brasil. Em 1964, ele apresentou a peça “Andorra”, marcando sua transição do realismo para um teatro mais crítico, influenciado pelo teatro épico de Bertolt Brecht.
O diretor viajou para a Europa para aprofundar seus estudos sobre Brecht e, posteriormente, trouxe o texto “Galileu Galilei” para os palcos do Teatro Oficina. A companhia Teatro Oficina é uma das mais longevas em atividade no Brasil e o local é tombado como patrimônio histórico desde 1982.
A morte de Zé Celso representa uma perda significativa para o teatro brasileiro, deixando um legado de experimentação, provocação e renovação artística. Sua influência transcendeu fronteiras e impactou gerações de artistas e espectadores ao longo de sua prolífica carreira.
